Olá Pessoal, neste post iremos abordar um tema muito importante sobre “Pessoas neuro divergentes” e a sua relação com o mergulho autônomo.
Quem vai esclarecer alguns pontos importantes será nossa Instrutora Natália Cordeiro que recentemente fez seu Crossover e agora se juntou a Família RAID e conhece esse tema porque ela vive isso diariamente em sua vida pessoal e claro como Instrutora de mergulho .
Vamos primeiramente ler um pouco sobre o assunto.
“Pessoas neuro divergentes” é um termo utilizado para descrever aquelas cujo funcionamento cerebral difere do que é considerado neurologicamente típico. Essa diversidade pode se manifestar em condições como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), transtornos de ansiedade, transtornos do humor, entre outros.
Em contraste, o termo “neurotípico” é frequentemente usado para descrever aqueles cujo funcionamento cerebral está alinhado com as expectativas sociais consideradas normais.
É importante destacar que o conceito de neurodiversidade promove a ideia de que as diferenças neurológicas não devem ser vistas apenas como desvios ou patologias, mas como uma parte natural da diversidade humana. A abordagem da neurodiversidade incentiva a aceitação e a valorização das diferentes maneiras de pensar, aprender e processar informações.
A prática do mergulho autônomo, ou mergulho com cilindro, geralmente exige habilidades específicas, treinamento e atenção a medidas de segurança. Se uma pessoa neuro divergente deseja praticar o mergulho autônomo, é importante considerar vários fatores, como o tipo e o grau da neuro divergência, bem como a capacidade da pessoa de seguir instruções, lidar com situações de emergência e manter a calma sob a água.
Cada pessoa é única, e a capacidade de praticar o mergulho autônomo pode variar amplamente entre indivíduos neuro divergentes. Algumas pessoas podem participar do mergulho autônomo com adaptações adequadas, enquanto outras podem achar mais desafiador ou até mesmo desaconselhável devido a considerações de segurança.
Se alguém neuro divergente estiver interessado em mergulho autônomo, é recomendável que essa pessoa consulte um profissional de mergulho certificado e discuta suas condições específicas. O instrutor de mergulho poderá avaliar a adequação do mergulho autônomo com base nas habilidades e necessidades individuais, fornecer orientações sobre adaptações, se necessário, e garantir que a prática seja segura e benéfica para a pessoa em questão.
Natalia, de onde você é, e quando você começou a mergulhar e porquê?
Sou nascida e criada em Recife e hoje resido em Porto de Galinhas. Comecei a mergulhar “por acaso” em uma viagem que fiz, na qual o mergulho de batismo foi oferecido. Eu sempre gostei muito de àgua, mas tinha medo, mas nesse dia, resolvi enfrentar. Eu sempre digo que foi a primeira vez na minha vida que eu entendi o que era sentir paz (dentro da minha mente ansiosa e TDAH, sempre tão cheia de pensamentos). Me apaixonei pela sensação que o mergulho transmitia, associada à sensação de superação, então resolvi fazer meu curso Open Water e simplesmente decidi que queria viver disso.
Durante seu curso de mergulho você teve alguma restrição ou dificuldade? Se sim como foi?
No básico, não muita. Eu já conhecia minhas limitações e busquei voltar minha atenção 100% àquilo. Mas lembro que de início era bem difícil controlar o medo e a insegurança, e isso tirava meu foco às vezes. O excesso de informações também foi um pouco difícil de conciliar, mas como eu estava muito empenhada, me dediquei bastante pra entender cada detalhe, e estudei bastante teoria para fixar as informações na minha cabeça.
Qual o tipo de mergulho que você mais gosta e como foi feito esse treinamento?
No momento, estou apaixonada pelo mergulho tecnico e de caverna, e buscando aprimoramento neles.O início do mergulho técnico foi um turbilhão de informações, e precisei respirar fundo, estudar teoria com calma, e fazer vários planejamentos com papel e caneta para entender o que estava fazendo. Na àgua, utilizava métodos que utilizo até hoje: levar um wetnote com lembretes dos procedimentos e detalhes do planejamento, e coloco marcações claras e à vista no stage. A mentalidade de ir pra água mentalizando o objetivo do mergulho ajuda muito também, e o principal: repetição! As repetições e criação de hábitos e rotinas me ajudaram a fixar os procedimentos e torná-los automáticos.
Você precisou de mais tempo para absorver a teoria, as práticas de piscina ou mar?
Quando consigo realmente focar na teoria, ela não é um grande problema pra mim. É só parar e estudar com calma. Já a na prática, normalmente acabo precisando treinar um pouco mais quando existe excesso de informações. O segredo é a repetição, e fazer um passo de cada vez.
Quando você se tornou Instrutora de mergulho e por quê?
Me tornei instrutora em agosto de 2021. Sempre quis fazer a diferença no mercado de mergulho, pois o método que algumas coisas me foram ensinadas não funcionavam para mim, e porque eu queria tornar o ambiente do mergulho mais inclusivo.
Qual dica você daria para pessoas neuro divergentes que estão interessados em aprender mergulho autônomo?
Façam! Dependendo do transtorno e do nível de suporte, é interessante consultar um médico psiquiatra e conversar com o instrutor sobre suas dificuldades. O mergulho me ajudou muito a lidar melhor com meus diagnósticos (TDAH e TAG), com minha própria mente, o controle de estresse, e sempre busco trazer o que aprendo na água pra vida. Aumenta a auto estima, ajuda no gerenciamento de estresse, nos obriga a desenvolver hábitos e métodos e nos mantém muito motivados. Recomendo também que não use ninguém como parâmetro de comparação. Cada ser humano é único, cada um tem suas limitações e suas facilidades. Não pulem etapas. Cada um tem seu tempo e o passo a passo é essencial.
Qual dica você daria para os instrutores de mergulho ensinarem neuro divergentes que querem aprender a mergulhar?
O primeiro passo é conversar sobre a condição de cada um, e entender como funciona. O segundo passo, é observar cada ser humano individualmente, e construir junto com o aluno, um método que se adapte ao estilo de aprendizagem do mesmo. Como aluna, percebi que instrutores que escutaram como minha mente funciona melhor, me ajudaram a obter resultados melhores. Como instrutora, também busco ouvir e me adaptar ao método de aprendizado de cada aluno.
Para finalizar;
Porque RAID?
Porque vi na RAID um espaço para inovar na maneira de mergulhar e de ensinar, que é exatamente o meu objetivo como instrutora.
Como você visualiza seu trabalho com a RAID?
Estou bastante empolgada e feliz em fazer parte dessa família, que me recebeu de braços abertos, com muito carinho e confiança. Acredito que vamos colher muitos bons frutos, e fazer a diferença juntos!
Natalia Cordeiro é instrutora de mergulho pela IANTD e RAID e administra seus cursos através da Paru Divers